sexta-feira, agosto 17, 2012

Controlo bem a fome e a vontade de fazer xixi
Seguro a raiva e consigo tolerar gente chata por um bom tempo
Nem o calor, nem o frio me incomodam muito
Convivo bem com os meus medos
Ando até bem confortável com a minha insônia
Tenho paciência pra arrastar a segunda-feira até o fim dela
E também acho graça na repetição monótona da rotina
Consigo lidar bem com muita coisa que me incomoda
Mas viver sem amor, é chato, enfadonho e cansativo
Viver sem amor é insuportável 


 

terça-feira, agosto 14, 2012


 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

Escrevo porque falo pouco

Quando falo, falo sem saber

E do que falo, quase nada sinto

Do que sinto, quase nada falo

Escrevo porque sinto muito

E meu peito é pouco para caber

Se me calo, eu não minto

Há vantagens no silêncio

Mas também agonias profundas

Amores contidos e frio

Há muito frio no silêncio

Escrevo porque frio sinto

Escrevo, me esvazio e me recrio

E me aqueço no morno intervalo

Entre um silêncio e outro

 
Um casal anda á minha frente, anda rente, lado a lado
e as mãos penduradas, próximas, já não se dão.
Se sentem, se alinham pendulando na mesma direção.
Mas já não se buscam, não se alcançam e apesar de estarem perto,
faltam uma a outra.
Acenam o tchau, dão sinal para o ônibus, seguram nos ferros sujos
e nos encostos dos bancos.
Então, as mãos sozinhas, se revezam segurando a bolsa que mãos de ninguém 
se ofereceram para levar.
Mãos agora um par para cada lado, se fecham com dedos suados a caminho do trabalho, 
onde pelo dia longo e sem descanço, terão água, cimento e sabão como companhia.

Eu sou a dona da rua,
das mangueiras em flor e do cheiro que vem delas.
Também sou dona dos cães sem dono que espalham o lixo nas calçadas.
Sou dona dos postes tortos, das lâmpadas queimadas e do escuro embaixo delas.
Sou dona do vento frio, das folhas secas e do barulho que faz quando elas caem nas telhas.
Sou dona até das lagartixas que correm as paredes das casas velhas e do musgo que tomou conta dos muros.
Sou dona dessa noite e das horas sem sono de que ela é feita.
Me sento num canto da madrugada, entre uma da manhã e os gatos no cio,
puxo uma ponta do céu negro veludo e costuro nele, meus cadentes amores inventados.
E dos amores, que saem de mim, voam por aí, e caem onde não posso ve

Só vejo que sou tão dona deles, quanto de mim donos eles são.