quinta-feira, março 29, 2012

Hoje resolvi escrever sobre o hábito-vício que alimento diariamente: observar pessoas.

O caminho de ida e volta do trabalho é um prato cheio, mas é dentro do ônibus que essa mania vira compulsão.

Os ônibus que pego, são os que ligam a Zona Oeste do Rio a Barra da tijuca, e seus passageiros são as diaristas,vendedores, funcionários de supermercados, enfim, a maior parte da mão de obra que mantêm o famoso "bairro emergente" em atividade.

E nessa rotina de analisar o modo de vestir, o cabelo desbotado ,o jeito tímido de andar, me divirto com a ingênuidade de alguns e me assusto com a maldade estampada de outros...

Quase sempre alguém retribui meus olhares, com um certo estranhamento, me achando doida varrida com certeza, é que nem sempre consigo disfarçar.

As vezes fico estática fitando os rostos dessa gente que vem e que vai.

Tem gente feia, tem gente bonita e todas as variações que pode caber entre esses dois adjetivos.

Mas independente dos detalhes estéticos, a fisionomia de cada um me surge a frente como livros na estante pronto para serem abertos e decifrados.

A minha porta de entrada, como não poderia se outra, são os olhos, que tento atravessar e desvendar o mundo intimo de cada um.

O que ao mesmo tempo me encanta e me deprime, porque numa visão geral, todos me transmitem tédio, alguns parecem plácidos, outros inertes, mas a maioria tem um "que" de cansaço e solidão.

Quase não encontro ânimo e contentamento nessas caras de todo dia.

E ultimamente, com a popularização dos iPods e celurares com mp3, nem conversa de ônibus existe mais. O silêncio só é cortado pelos vendedores de bala que sobem e descem com seus textos prontos, vozes anasaladas e mais lamento do que simpatia...

Assumo que tenho preferência e presto mais atenção nas mulheres, nelas consigo ver um pouco mais de doçura, principalmente na hora da volta para casa. Percebo em algumas um certo "ar" de contentamento pela expectativa do breve encontro com os seus, mesmo quando sei que muitas delas não terão o descanso merecido descanso quando chegar, pois sempre terão uma tarefinha doméstica pra fazer, ou pelo menos a janta, com certeza ainda vai ter que aprontar...

Quando tem engarrafamento próximo ao Morro da Grota Funda, o atraso da viajem provoca uma sinfonia de telefones tocando.Gosto dessa parte, adoro quando alguém atende dizendo:_Oi amor!, já já to chegando, to subindo a serra, hân...tá...tá...beijo...tchau. E desliga o celular com um sorrizinho preso no canto da boca, fecha os olhos e encosta a cabeça na janela pra tirar um cochilo...

Aí fico pensado naqueles que não receberam nenhuma ligação, será que não tem ninguém pra se preocupar com eles? ninguém os esperando pra dividir espaço num sofá das Casas Bahia na hora da novela das oito?

Talvez por isso alguns não parecem satisfeitos em voltar pra casa, e seguem o destino da falta de opção... triste isso...

Triste mesmo é gente que chora no ônibus, acho que esse tempo, que não é tão curto, libera a mente pra pensar nos problemas, ou simplismente pra alguns não sobra tempo pra chorar noutra hora.

Certa vez vi uma moça chorar pelo fim do namoro, enquanto ouvia ininterrupitamente o pagode preferido do ex, tem amoça que chora porque não aquenta mais a pressão da gerente "mal amada" da loja de departamentos em que trabalha, e ontem vi um senhor chorando de dor pelo joelho inchado e inflamado que lhe impedia de subir as escadas de seu quitinete num conjunto habitacional em Santa Cruz.

Mas tem gente alegre também, são so que me ganham fácil, lembro de uma família na qual me detive por cinco minutos sem desviar a atenção Desciam pra Barra, pai e mãe de uns quarenta anos cada e uma filha linda de nove ou dez, me pareciam tranquilos e afáveis, trocavam carinhos e sorriam todo o tempo. Me tocou  o quanto pareciam estarem felizes pelo simples fato de terem uns aos outros...



terça-feira, março 20, 2012

MSP- Movimento dos Sem Paixão


Não lembro a última vez que tive um pensamento romântico,

meu coração anda seco e esturricado,

feito o solo do agreste...

Oque fazer, se não chove?

Pensei de me entregar á Reforma agrária,

já que não há semente que germine no meu latifúndio,

hectares inférteis, onde não crescem mais sonhos.

Assim, quem sabe,

essa terra devoluta,

valha alguma luta.

Me divido em lotes,

sem dotes,

sem emenda e

sem contenda.

Eu, terra de ninguém

me permito invasão.

Anuncio-me desapropriada,

por vontade própria.

Não venho cá falar de carência,

mas sim,

duma descrença tremenda.