quinta-feira, maio 26, 2011




Tarde de verão de 88, eu brincava na rua, quando alguém chama lá em casa 
e dá notícia recebida por telefone de morte na família.
Atendendo a pedidos de uma mãe atordoada, eu e meu irmão nos apressamos no banho e na arrumação das bolsas com roupa pra três dias. Logo partirmos para cruzar a cidade até a casa de parentes distantes que nos aguardavam para o velório e enterro.
Com certeza levamos umas cinco horas para chegar ao nosso destino.
Já estávamos no meio do caminho, quando um silêncio triste nos calou e nos prendeu cada um dentro de si.
Era sábado de Carnaval anoitecendo numa Cascadura cinza e engarrafada. Da janela do ônibus eu podia observar o tanto de céu que sobrava dentre os viadutos, o comércio arriando as portas e um "bate-bola" colorindo a calçada numa dança solitária, girando ao som dos próprios guizos. E parou quando percebeu que eu, "garota do ônibus" o assistia.
A criatura alegórica me olhava de olhos que eu não via, mas sentia.
Essa mútua contemplação durou poucos segundos até o sinal abrir.
E eu segui rumo ao meu fúnebre fim de semana, enquanto o rapaz mascarado voltava a saltitar e espalhava amarelo,vermelho e laranja pela noite de folia de quem tinha o que comemorar.