sexta-feira, agosto 26, 2011

Olhar a sua volta...

Nossa natureza egoísta nos leva sempre a pensar que nossos problemas são mais urgentes e importantes do que os problemas dos outros.
Nos supervalorizamos, esquecendo que nada na vida se consegue sozinho e que na verdade, somos todos iguais. Às vezes fortes, noutras fraco, às vezes por cima, noutras por baixo.
O egoísmo é um dos males mais evidentes e destruidores da nossa geração, haja visto a grande dificuldade que temos tido em nos relacionar, seja no campo amoroso, familiar ou profissional.
Até mesmo as amizades sinceras e verdadeiras, deram espaço a relações superficiais, baseadas em vários tipos de interesses, menos no companherismo.
Como capitalizássemos os relacionamentos, vizando sempre algum lucro ou vantagem, e não aceitando de forma alguma dar mais do que receber. Fazemos isso influenciados pelo orgulho e pela vaidade, irmãos inseparáveis do nosso vilão-tema, o egoísmo.
Infelizmente, pessoas sinceras, educadas e bondosas estão fora de moda, e na verdade, quando resolvem dar o ar da graça, são muitas vezes rejeitados e "zoados". Afinal, hoje em dia, parece cafona ser gentil, e honestidade é coisa de otário.
" Você tem que ser o melhor, o mais bem colocado, remunerado, assediado e exaltado, porque você merece mais do que todo mundo". Livros de auto-ajuda vendem milhões no mundo inteiro com slogans desse tipo, palavras mágicas com o suposto poder de transformar qualquer "da Silva" em um CEO de uma multinacional.
Todos queremos a receita pro sucesso individual, muitos tem essa meta acima de qualquer outra coisa. Passamos tanto tempo olhando para nosso próprio umbigo, tão preocupados com nós mesmos, que não lembramos de olhar a nossa volta e ver quem está do nosso lado, e oque acontece ao nosso redor.
Perdemos tantas oportunidades de fazer algo pelos outros, deixamos de aprender o verdadeiro sentido da vida, deixamos para atrás aqueles valores que deveriámos ter como base em todas nossas ações.
Quantas vezes você deixou de dar atenção para alguém, porque estava com pressa?
Há quanto tempo você não liga para aquele amigo que já quebrou vários galhos seus, vai esperar precisar dele de novo para procurá-lo?
Pense nos sorrisos que deixou de dar e em consequência nos que deixou de receber.
Reate os laços de amizade que você, com o tempo, permitiu que afrouxassem.
Não deixe de acreditar em histórias românticas, se permita, se entregue. Por que não sonhar com um romance de de filme, com todas as coisas bobas e fofas do amor?
Tente ter o coração aberto ao outro e aceitar as diferenças, e sem reservas declarar seu carinho a sua família e amigos.
Seja gentil com a vida e com o mundo, eles retribuirão.
Tenha mais paciência e mais tempo para os outros, tenha mais fé e acima de tudo, mais amor.
Quebre a corrente do egoísmo.
Não se envergonhe defazer a coisa certa.
Não há recompensa maior do que ter a consciência tranquila, é daí que vem a paz.

sexta-feira, junho 03, 2011

a garota colorida



...Encontrei essa garota numa fila pra pegar uma senha,
uma senha pra sentar e esperar,nem lembro mais oque esperávamos.
Ela mascava chicletes,falava sozinha e tinha os olhos inchados de sono,
mas estava longe de dividir comigo o tédio de estar ali...
até porque acredito que ela não estava ali de fato...
ria conversando com seus botões e o papo estava animado.
E por incrível que pareça não a julguei louca,
ela era um ponto colorido dentre centenas de pontos cinzas
que se distribuiam naquele enorme saguão...
tive imensa vontade de falar com ela,e com os botões também...
Ela revirava os olhos,mexia nos cabelos e sorria novamente,
sorria por nada e por tudo,
sorria por viver...
e numa fila enfadonha,num lugar sem ar condicionado,
cheio de gente chata como eu...
ela tinha a ousadia de se abrir em largos sorrisos...
e isso me isntigou.
Mas uma hora a fila terminou...
eu saí dali primeiro,mas não consegui ir embora...
fiquei numa praça em frente ao prédio,
estático,esperando aquela garota sair de lá...
comprei água,sentei esperei...
não queria água,mas sim pelo menos um gole multicor da vida dela...
Droga! ela saiu e eu estava distraído observando
um pombo albino no meio de tantos rajados de preto azulado.
Ela já estava dobrando a esquina quando disparei atrás dela...
ela ia em passos leves e longos e eu com meu tênis de sola mais que gasta,
suava para acompanhá-la, reparando que ela era mais viva e colorida em movimento...
tinha o sol nos cabelos ,e uma beleza maior do que traços bem feitos,
tinha tempestade nos olhos,e toda paz do mundo no sorriso...
E eu quis chegar mais perto...
ela parou diante de uma antiga livraria,escura e mofada,
lançou mão dum dos livros da banca de orfertas,
o alisou ,o abriu e por fim,o cheirou e pra colorir a cena,sorriu...
o sorriso mais fácil e lindo que já vi,e esse sorriso me chamou, e eu o atendi...
me aproximei e fingi me interessar pelos livros velhos que ela acarinhava,
a olhei pelo cantinho do olho,ela cantava...
tentei falar com ela,mas nada saiu além de um grunidinho
que disfarcei com uma falsa tosse provocada pela poeira local...
ela escolheu um exemplar esfolado,"a hora da estrela"...
se aproximou do balcão( acho que não preciso fala que ela estava sorrindo nesse momento),
boa tarde!!!! vou levar esse aqui!
abre a bolsa,dinheiro ,troco,livro numa sacola,
fecha bolsa,novo sorriso e despedida cordial...
e já se ia novamente pelas tumultuadas calçadas do centro,
desce as escadarias do metrô,saltitando,criança,sorri,e some num dos trêns...
que eu nem sei pra onde vai...
Nem fiquei sabendo seu nome,mas fiquei com suas cores,
depois disso nunca mais fui " preto e branco"









quinta-feira, maio 26, 2011




Tarde de verão de 88, eu brincava na rua, quando alguém chama lá em casa 
e dá notícia recebida por telefone de morte na família.
Atendendo a pedidos de uma mãe atordoada, eu e meu irmão nos apressamos no banho e na arrumação das bolsas com roupa pra três dias. Logo partirmos para cruzar a cidade até a casa de parentes distantes que nos aguardavam para o velório e enterro.
Com certeza levamos umas cinco horas para chegar ao nosso destino.
Já estávamos no meio do caminho, quando um silêncio triste nos calou e nos prendeu cada um dentro de si.
Era sábado de Carnaval anoitecendo numa Cascadura cinza e engarrafada. Da janela do ônibus eu podia observar o tanto de céu que sobrava dentre os viadutos, o comércio arriando as portas e um "bate-bola" colorindo a calçada numa dança solitária, girando ao som dos próprios guizos. E parou quando percebeu que eu, "garota do ônibus" o assistia.
A criatura alegórica me olhava de olhos que eu não via, mas sentia.
Essa mútua contemplação durou poucos segundos até o sinal abrir.
E eu segui rumo ao meu fúnebre fim de semana, enquanto o rapaz mascarado voltava a saltitar e espalhava amarelo,vermelho e laranja pela noite de folia de quem tinha o que comemorar.

quinta-feira, janeiro 27, 2011


Você se esconde mudo agora
Pode estar em qualquer canto escuro dessa noite
É cedo ainda pra quem acredita que o tempo não passa
Mas é tarde para o meu remorso, meu desperdício
Vá, escreva duas linhas sobre a saudade
Ou vinte páginas sobre nosso encontro malsucedido
Ache um papel que suporte tantas dúvidas
Quebre um pouco o silêncio
Recite seus diálogos mentais
Aqueles que se repetem todos os dias
Onde você ouve de mim
Palavras que nunca te disse
Talvez se fechássemos os olhos, acabariam os problemas entre nós
Se fizéssemos uma escolha consciente
Se recomeçássemos do primeiro beijo...
Não, nada mudaria,
Pois a “volta”, é o começo do avesso
É querer ir pra frente andando pra atrás
Num caminho cheio de placas sinalizando o perigo
Mas, se viesse me buscar, ainda assim, iria contigo
Faço as contas das vezes que me peguei pensando em você
No vai-e-vem da rotina,
Nos dias cheios e nas madrugadas vazias
Quero que saiba que ainda penso em você
E pensarei, até que um dia, sem avisar, esse amor decida ir embora
Mas por agora, ele não vai a lugar algum
Não tem sono que valha mais do que a história que inventamos
E do meu canto escuro, insone e insana,
Brindo à falta
E me permito mais uma vez,
Tentar ver sentido no que sinto
Desisto e brindo ao medo
Que me mantém no meu canto...

domingo, janeiro 16, 2011

Quebra-cabeças

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Gosto-te ao contrário
Na vã esperança de inverter o desejo
A saudade que me pesa 
Disfarço com o desprezo
Pele fria grita sozinha
Finjo que não percebo
Deixo-te ir embora
Sem pedir que voltes
E imploro que sumas
Gosto-te ao contrario
Porque não é certo doer assim
Faço pouco de suas palavras
Ignoro seus olhos
Desdenho da tua cena ensaiada
Não reclamo o engano 
Cansei das desculpas
Já não espero nada
Prefiro a distância e o silêncio à tua simulação
No teu quebra-cabeças desfalcado
Que insistes em espalhar no chão
Não encontrei lugar para me encaixar
Mas, ainda assim, te gosto, ao contrário
E vou contra tudo que sinto
Gosto-te muito e minto
A contra gosto, gosto
Me gasto gostando
E de tanto gostar
Vou me acabando

terça-feira, janeiro 11, 2011

Mosaico

Tua beleza é dividida do pedaços, espalhada nos traços
Dela tirei um caco que ainda conservo intacto
Relíquia roubada que comigo trago
E protejo do tempo que corrói o retrato
Até que desse tanto você se faça inteiro e todo meu de fato.

sábado, janeiro 01, 2011

Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça... Mário Quintana

O que há de novo nessa vida que não muda de um dia para o outro?
Novidades são esperadas, ansiosamente, de olho no relógio começamos a contagem regressiva.
Meia noite! E explode uma mistura de embriaguês, fé e euforia.
Pé direito, sete ondas, lentilha, flores para Iemanjá, superstições, simpatias e outras coisas nas quais nunca acreditei.
Trocam-se votos de paz, saúde e prosperidade, palavras que se repetem mecânicamente, numa sequência aleatória de abraços suados.
Incessantes queimas de fogos colorem o céu e assustam os cachorros.
Novos Planos, novos pedidos (a quem?), novas promessas ( para quem?)
E um novo ânimo que chega ao fim já na primeira ressaca do ano, talvez a maior delas...
E tudo que você quer é tomar um Engov ficar o resto do dia na cama, torcendo pro churrasco do vizinho acabar logo, pra abaixarem o volume do pagode. 
E assim descansar e voltar a sua velha vida de sempre, que não mudou nada.