quinta-feira, janeiro 27, 2011


Você se esconde mudo agora
Pode estar em qualquer canto escuro dessa noite
É cedo ainda pra quem acredita que o tempo não passa
Mas é tarde para o meu remorso, meu desperdício
Vá, escreva duas linhas sobre a saudade
Ou vinte páginas sobre nosso encontro malsucedido
Ache um papel que suporte tantas dúvidas
Quebre um pouco o silêncio
Recite seus diálogos mentais
Aqueles que se repetem todos os dias
Onde você ouve de mim
Palavras que nunca te disse
Talvez se fechássemos os olhos, acabariam os problemas entre nós
Se fizéssemos uma escolha consciente
Se recomeçássemos do primeiro beijo...
Não, nada mudaria,
Pois a “volta”, é o começo do avesso
É querer ir pra frente andando pra atrás
Num caminho cheio de placas sinalizando o perigo
Mas, se viesse me buscar, ainda assim, iria contigo
Faço as contas das vezes que me peguei pensando em você
No vai-e-vem da rotina,
Nos dias cheios e nas madrugadas vazias
Quero que saiba que ainda penso em você
E pensarei, até que um dia, sem avisar, esse amor decida ir embora
Mas por agora, ele não vai a lugar algum
Não tem sono que valha mais do que a história que inventamos
E do meu canto escuro, insone e insana,
Brindo à falta
E me permito mais uma vez,
Tentar ver sentido no que sinto
Desisto e brindo ao medo
Que me mantém no meu canto...

domingo, janeiro 16, 2011

Quebra-cabeças

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Gosto-te ao contrário
Na vã esperança de inverter o desejo
A saudade que me pesa 
Disfarço com o desprezo
Pele fria grita sozinha
Finjo que não percebo
Deixo-te ir embora
Sem pedir que voltes
E imploro que sumas
Gosto-te ao contrario
Porque não é certo doer assim
Faço pouco de suas palavras
Ignoro seus olhos
Desdenho da tua cena ensaiada
Não reclamo o engano 
Cansei das desculpas
Já não espero nada
Prefiro a distância e o silêncio à tua simulação
No teu quebra-cabeças desfalcado
Que insistes em espalhar no chão
Não encontrei lugar para me encaixar
Mas, ainda assim, te gosto, ao contrário
E vou contra tudo que sinto
Gosto-te muito e minto
A contra gosto, gosto
Me gasto gostando
E de tanto gostar
Vou me acabando

terça-feira, janeiro 11, 2011

Mosaico

Tua beleza é dividida do pedaços, espalhada nos traços
Dela tirei um caco que ainda conservo intacto
Relíquia roubada que comigo trago
E protejo do tempo que corrói o retrato
Até que desse tanto você se faça inteiro e todo meu de fato.

sábado, janeiro 01, 2011

Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça... Mário Quintana

O que há de novo nessa vida que não muda de um dia para o outro?
Novidades são esperadas, ansiosamente, de olho no relógio começamos a contagem regressiva.
Meia noite! E explode uma mistura de embriaguês, fé e euforia.
Pé direito, sete ondas, lentilha, flores para Iemanjá, superstições, simpatias e outras coisas nas quais nunca acreditei.
Trocam-se votos de paz, saúde e prosperidade, palavras que se repetem mecânicamente, numa sequência aleatória de abraços suados.
Incessantes queimas de fogos colorem o céu e assustam os cachorros.
Novos Planos, novos pedidos (a quem?), novas promessas ( para quem?)
E um novo ânimo que chega ao fim já na primeira ressaca do ano, talvez a maior delas...
E tudo que você quer é tomar um Engov ficar o resto do dia na cama, torcendo pro churrasco do vizinho acabar logo, pra abaixarem o volume do pagode. 
E assim descansar e voltar a sua velha vida de sempre, que não mudou nada.