sexta-feira, junho 03, 2011

a garota colorida



...Encontrei essa garota numa fila pra pegar uma senha,
uma senha pra sentar e esperar,nem lembro mais oque esperávamos.
Ela mascava chicletes,falava sozinha e tinha os olhos inchados de sono,
mas estava longe de dividir comigo o tédio de estar ali...
até porque acredito que ela não estava ali de fato...
ria conversando com seus botões e o papo estava animado.
E por incrível que pareça não a julguei louca,
ela era um ponto colorido dentre centenas de pontos cinzas
que se distribuiam naquele enorme saguão...
tive imensa vontade de falar com ela,e com os botões também...
Ela revirava os olhos,mexia nos cabelos e sorria novamente,
sorria por nada e por tudo,
sorria por viver...
e numa fila enfadonha,num lugar sem ar condicionado,
cheio de gente chata como eu...
ela tinha a ousadia de se abrir em largos sorrisos...
e isso me isntigou.
Mas uma hora a fila terminou...
eu saí dali primeiro,mas não consegui ir embora...
fiquei numa praça em frente ao prédio,
estático,esperando aquela garota sair de lá...
comprei água,sentei esperei...
não queria água,mas sim pelo menos um gole multicor da vida dela...
Droga! ela saiu e eu estava distraído observando
um pombo albino no meio de tantos rajados de preto azulado.
Ela já estava dobrando a esquina quando disparei atrás dela...
ela ia em passos leves e longos e eu com meu tênis de sola mais que gasta,
suava para acompanhá-la, reparando que ela era mais viva e colorida em movimento...
tinha o sol nos cabelos ,e uma beleza maior do que traços bem feitos,
tinha tempestade nos olhos,e toda paz do mundo no sorriso...
E eu quis chegar mais perto...
ela parou diante de uma antiga livraria,escura e mofada,
lançou mão dum dos livros da banca de orfertas,
o alisou ,o abriu e por fim,o cheirou e pra colorir a cena,sorriu...
o sorriso mais fácil e lindo que já vi,e esse sorriso me chamou, e eu o atendi...
me aproximei e fingi me interessar pelos livros velhos que ela acarinhava,
a olhei pelo cantinho do olho,ela cantava...
tentei falar com ela,mas nada saiu além de um grunidinho
que disfarcei com uma falsa tosse provocada pela poeira local...
ela escolheu um exemplar esfolado,"a hora da estrela"...
se aproximou do balcão( acho que não preciso fala que ela estava sorrindo nesse momento),
boa tarde!!!! vou levar esse aqui!
abre a bolsa,dinheiro ,troco,livro numa sacola,
fecha bolsa,novo sorriso e despedida cordial...
e já se ia novamente pelas tumultuadas calçadas do centro,
desce as escadarias do metrô,saltitando,criança,sorri,e some num dos trêns...
que eu nem sei pra onde vai...
Nem fiquei sabendo seu nome,mas fiquei com suas cores,
depois disso nunca mais fui " preto e branco"